Em matéria feita pelo jornal The News York Times, traduzida pelo UOL e publicada no FolhaOnline, o repórter Tamar Lewin de Southfield, Michigan (EUA) nos conta que na maioria das faculdades de lá, a maconha constitui-se basicamente em uma questão extracurricular:
No Med Grow Cannabis College, a maconha é o currículo: a história, as técnicas de plantio e os aspectos legais do novo programa de Michigan sobre o uso medicinal da maconha.
“Este Estado precisa de empregos, e nós acreditamos que a maconha medicinal pode estimular a economia estadual com centenas de empregos e milhões de dólares”, afirma Nick Tennant, 24, o fundador da faculdade, que atualmente é um negócio em crescimento (mas sem bacharelados) que funciona em salas de aula modestas em um subúrbio de Detroit.
O curso de seis semanas, e no valor de US$ 485 (R$ 852), sobre o uso medicinal da maconha é uma mistura de um programa agrícola de extensão que inclui o ciclo de crescimento do pé de maconha, os nutrientes e a luminosidade exigidos pela planta (“O momento da colheita é quando a metade dos tricomas apresenta uma cor âmbar e a outra metade está branca”), e uma reunião de usuários sérios da maconha, que trocam histórias sobre as suas melhores viagens (“Fume aquele tipo de maconha que você ficará… medicado!”).
O único livro de leitura obrigatória é: “Marijuana Horticulture: The Indoor/Outdoor Medical Grower’s Bible” (“A Cultura da Maconha: A Bíblia do Plantador de Maconha Medicinal em Ambientes Fechados ou ao Ar Livre”), de Jorge Cervantes.
Embora o cultivo da maconha para fins medicinais seja legal segundo a nova lei do Estado de Michigan, o nervosismo quanto a essa atividade é suficientemente intenso para que a maioria dos alunos de um curso recente não quisesse que os seus nomes ou fotografias fossem publicados. Um instrutor também pediu para não ser identificado.
“A minha mulher trabalha para o governo”, explica um aluno. “E eu disse à minha sogra que iria fazer um curso de pequenos negócios”.
Se o programa sobre o uso medicinal da maconha da Califórnia, o mais antigo do país, é atualmente um grande negócio, havendo centenas de estabelecimentos de venda do produto só em Los Angeles, o programa de Michigan, que teve início em abril deste ano, representa melhor aquilo que está ocorrendo em outros Estados que legalizaram a maconha para fins médicos.
Segundo a lei de Michigan, os pacientes cujos médicos atestaram a necessidade terapêutica da maconha podem cultivar eles próprios até 12 pés de cannabis ou escolher um “enfermeiro” para cultivar a planta e vender o produto. Qualquer indivíduo com mais de 21 anos de idade que não tenha histórico policial relativo ao uso ou ao tráfico de drogas pode fornecer tais serviços a até cinco pacientes.
Até o momento, O Departamento de Saúde Comunitária registrou 5.800 pacientes e 2.400 plantadores. Para Tennant, que está registrado como plantador e paciente – ele diz que tem problemas estomacais e ansiedade – a faculdade Med Grow substituiu a sua firma de lavagem de carros que ele abriu após concluir o segundo grau, e que faliu quando a economia entrou em crise. A Med Grow começou a oferecer o seu curso em setembro, com novas turmas todos os meses.
Em uma terça-feira recente, dois professores deram uma aula de quatro horas de duração, começando com Todd Alton, um botânico que não forneceu amostras para degustação quando ensinou aos estudantes receitas culinárias à base de maconha, incluindo creme, ganache e “greenies” (a versão à base de canabbis dos tradicionais brownies). O segundo instrutor, que não forneceu o seu nome, ensinou à turma o ciclo do crescimento da planta, os métodos de colheita e as técnicas para curtir o produto, a fim de aumentar a potência da maconha.
Tennant diz que vê a escola como o centro de um negócio mais amplo que venderá produtos para os plantadores de maconha medicinal formados pela escola, oferecerá seminários e fornecerá uma rede para contatos entre pacientes e plantadores. A Med Grow já é um local de encontro para as pessoas interessadas na maconha medicinal. O quadro na sala de recepção traz os nomes e os telefones de vários pacientes que procuram plantadores, e o nome e o número telefônico de um plantador em busca de pacientes.
Os estudantes formam um grupo diversificado: brancos e negros, alguns com idades entre 20 e 30 anos, outros bem mais velhos, alguns empregados, outros não. Alguns levam bastante a sério o comparecimento às aulas e a atividade. “Eu acabei de dizer a dois indivíduos nos quais confio que esta é uma oportunidade de negócios, mas certas pessoas ainda vêm em busca de diversão. Porém, eu continuarei fazendo o curso”, diz Jeffery Butler, 27.
Scott Austin, um aluno desempregado de 41 anos, diz que ele e dois colegas pretendem ingressar juntos na atividade de cultivo de maconha medicinal. “Eu nunca fumei maconha na vida”, diz Austin. “Eu ouvi falar nisto em uma exposição de negócios dois meses atrás”.
Como o programa de Michigan é muito novo, certas áreas indeterminadas na legislação não foram testadas, o que provoca certa preocupação em alguns alunos. Por exemplo, é ilegal plantar maconha sem que se seja oficialmente classificado como plantador ou paciente certificado. No entanto, pacientes que estão doentes, certificados e prontos para comprar maconha geralmente não se dispõem a esperar meses até que o ciclo de crescimento da planta esteja concluído e o produto pronto para ser colhido. Assim, por ora, a entrada coordenada nesse negócio é um processo meio incerto. Os alunos dizem que estão contando com todo tipo de ideias e auxílio extra na aulas.
“Eu quero aprender todos os pequenos truques, tudo o que puder”, diz Sue Maxwell, uma aluna que faz todas as semanas dirige quatro horas da sua casa, ao norte de Detroit, até a escola. “Isso é um grande investimento, e quero fazer as coisas da maneira certa”.
Maxwell, que trabalha em uma padaria, já é enfermeira – no sentido antigo, e sem vínculo com drogas, da palavra – de algumas pessoas idosas para as quais ela acredita que a maconha medicinal poderia se constituir em um real benefício. “Eu faço comida para elas e ajudo com as tarefas domésticas”, diz Maxwell. “Conheço uma senhora de 85 anos que não tem apetite. Eu não sei se ela teria interesse na maconha medicinal, mas eu aposto que isso a ajudaria”.
Maxwell explica que o seu plano de plantar maconha foi formulado lentamente. “Estávamos conversando sobre isso na padaria durante o verão inteiro”, diz ela. “Meio brincando, eu disse: ‘Vou plantar maconha medicinal. Sou jardineira, sempre sonhei em ter uma estufa. Acho que isso pode ser ótimo’. Foi então que de repente me dei conta de que iria realmente cultivar maconha medicinal”.
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