Uma das grandes seções do blog Maconha da Lata são as
entrevistas com personalidades do ramo ou que falam sobre o nosso principal
assunto: a cannabis. No bate-papo de hoje, tivemos uma boa conversa com o
escritor Wilson Aquino, autor do livro Verão da Lata, que desmistifica um dos
episódios das famosas latas contendo Maconha, que foram jogadas no mar, pelos
tripulantes do Solana Star. O fato que se espalhou pelo boca-boca ganhou uma
grande dimensão e até hoje as famosas latas são faladas em tom de saudosismo
pelos amantes da cannabis. Não deixe de ler a nossa entrevista!
Por que você resolveu escrever
um livro sobre o Verão da Lata?
A intenção era registrar o momento histórico, isso porque em
conversa com pessoas mais jovens percebi que muitas delas não acreditavam que o
Verão da Lata tivesse existido de verdade. Pensavam que era folclore, lenda
urbana. E como normalmente a gente só registra história política e econômica,
surgiu a idéia de contar uma história que parte da sociedade viveu
intensamente.E a gente aproveita para desmistificar essa história de que o
Verão da Lata era apenas uma lenda
Quais as regiões costeiras que
mais encontraram as famosas latas?
A maior parte das latas foi encontrada no litoral do Rio de
Janeiro e de São Paulo. Mas elas apareceram em toda Costa entre o Rio de
Janeiro e Rio Grande do Sul. Das 15 mil latas jogadas no mar, as autoridades
apreenderam cerca de 3 mil. Ou seja: 20%.
É de seu conhecimento alguém que
ainda guarde esta lata de recordação?
Encontrei um arquiteto que tinha guardado uma lata de
recordação (vazia, claro) . Mas como foi uma experiência coletiva, que envolveu
muita gente é bem possível que existam mais por aí.
Qual foi a repercussão na época
das latas contendo maconha jogadas ao mar?
Foi uma loucura. Muita gente não acreditava que estava
aparecendo lata recheada de maconha nas praias. Mas logo que as pessoas
perceberam que não era boato, passaram a se organizar. Alguns grupos chegaram a
alugar lanchas para pegar lata em alto mar, já que em terra havia uma repressão
grande por parte da Polícia. A Federal ficava de plantão nos portos, cais e
marinas, revistando as embarcações que chegavam à procura a lata.
Depois de apreendido pela polícia, o navio foi leiloado. O
Solana foi o primeiro bem apreendido com o tráfico que foi à leilão. O
objetivo era arrecadar dinheiro para investir em campanhas educativas e no
treinamento de policiais no combate às drogas. Mas a grana ficou num conta não
remunerada do Banco do Brasil durante cinco anos e perdeu o valor, em função
das trocas de moeda, que eram muito comuns no século passado. Mas o Solana
acabou sendo adquirido por um empresa de reboque marítimo, que transformou o
navio em atuneiro (barco para pesca de atum). Entretanto, o serviço foi mal
feito e na primeira viagem, em 1994, o Solana Star (que havia mudado o nome
para Tunamar) naufragou no litoral do Rio de Janeiro, aproximadamente perto do
local onde sete anos desovara as latas de maconha. Dos 31 tripulantes, 11
morreram. O Solana agora repousa a 60 metros de profundidade, nas água de
Arraia do Cabo.
Quais as expectativas para o
lançamento do livro “Verão da Lata”?
Apesar das várias histórias
sobre o verão da lata, ainda existe possibilidade de existir alguma lata
contendo maconha?
Não creio. Lá se vão 25 anos. Mas é possível que alguém
tenha plantado alguma semente no território nacional. Mas o esperto que fez
isso, está na dele, claro.
Qual a sua opinião sobre a atual
política de combate as drogas no Brasil?
Vejo um avanço bem significativo no tratamento dispensado
pela Justiça ao cara que gosta de fumar. A sociedade está muito mais tolerante
com a maconha se comparado com 25 anos atrás. No entanto, não vejo uma
iniciativa mais clara para uma descriminalização total, que é o sonho de todo
maconheiro. Acho que antes de mais nada é preciso uma estrutura muito bem
montada para a questão da venda. Não faz sentido, no caso de descriminalizar,
que os fumantes tenham que recorrer à bocas-de-fumo em áreas violentas para
adquirir o produto. Tem que ter um esquema muito bem feito para afastar o crime
da erva. Até mesmo porque não combinam, como ficou provado no Verão da Lata.