Em 18 meses, um faturamento aproximado de R$ 275 milhões - o que significa quase R$ 200 milhões somente no período de um ano. A arrecadação de R$ 15,5 milhões por mês, invejável para a maioria das grandes empresas de Bauru, é o valor estimado que o mercado ilegal de entorpecentes movimentou entre o ano passado e este ano (até junho) na região. No período de 18 meses, o montante que deixou de ser injetado na economia formal equivale a um quarto de todo o faturamento do setor supermercadista de Bauru e a 5% do Produto Interno Bruto (PIB) da cidade em 2010.
Assustadora, a cifra se baseia na expectativa “otimista” de que, para cada um quilo de droga apreendido, outros nove chegam até seu destino final - os usuários. Mas há quem acredite que a proporção interceptada seja ainda menor. Do início de 2010 até agora, foram retidas 3,085 toneladas de maconha, cocaína e crack em 54 cidades da região abrangidas pelas delegacias seccionais da Polícia Civil de Bauru, Botucatu, Jaú e Marília, além do município de Lins. Ao todo, sem considerar as apreensões efetivadas pela Polícia Federal, a droga é avaliada em R$ 27,5 milhões.
Se fosse aplicada no comércio, a quantia movimentada nos 18 meses do levantamento feito a pedido do JC seria suficiente para a aquisição de 9 mil carros populares ou 1,8 mil apartamentos de dois dormitórios localizados em bairros de classe média da cidade. Também custearia 91 mil passagens de ida e volta para a Europa ou a compra de mais de três toneladas de ouro.
“Mas o prejuízo para a economia não se resume ao valor faturado pelo tráfico. O ônus financeiro sobre o sistema de saúde que precisa cuidar dos usuários, sobre a segurança pública que precisa combater o comércio ilegal e o que se perde por conta dos dependentes que deixam de trabalhar também precisa ser considerado”, enumera o economista Mauro Gallo.
Na seccional de Bauru, compreendida por 18 municípios, foram apreendidos 853 quilos de drogas, sendo 438,75 quilos somente na cidade. A maior parte deste montante corresponde a maconha, entorpecente que custa, em média, R$ 2,00 o grama. Já a cocaína é comercializada pelo valor mínimo de R$ 10,00 e o grama do crack, com que se produzem cerca de três pedras, custa em torno de R$ 30,00.
Ainda que possa corresponder a um valor muito superior, o faturamento estimado pelo JC com base em informações colhidas junto à Polícia Civil demonstra que o narcotráfico se transformou em negócio bastante lucrativo e bem organizado, com regras e poder hierárquico próprios. Como uma verdadeira empresa, os traficantes possuem logística de transporte muito bem elaboradas e estratégias cada vez mais sofisticadas para burlar a fiscalização (leia mais abaixo).
Autoridades consultadas reconhecem que a tarefa de combater a expansão desse crime tem sido árdua, embora não deem a guerra como perdida. Para o delegado seccional da Polícia Civil de Bauru, Benedito Antônio Valencise, descriminalizar o uso da maconha ou outras drogas seria equivocado. “Não dá para simplesmente jogar a toalha. Entendo que é necessário tornar as leis mais severas e oferecer tratamento adequado aos usuários. Além disso, é preciso intensificar a fiscalização nas fronteiras, porque o entorpecente que entra no Brasil vem de outros países”, frisa.
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