A descriminalização da maconha é um assunto polêmico, mas
atual na maioria dos países. Um dos defensores de uma política mais branda e
menos repressiva e bélica, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso afirmou
que as políticas implementadas pelos Estados Unidos e por países da Europa em
relação às drogas são acomodações, e não soluções.
Em entrevista exclusiva ao portal Terra, FHC falou sobre as
políticas que o Brasil deve implementar para essa questão polêmica e ainda
reconheceu resultados positivos alcançados pelo Estado do Rio de Janeiro na
pacificação das favelas da capital fluminense.
No entanto, o ex-presidente disse que, juntamente com a
ocupação, é preciso 'ação social continuada' para sufocar o consumo das drogas,
para que as medidas não passem por paliativas.
Confira abaixo as perguntas da entrevista realizada pelo
portal terra.
Terra - Uma causa que o senhor tem se envolvido muito nos
últimos tempos é a questão das drogas. O senhor acha que a sociedade está
pronta para discutir a descriminalização? Qual o modelo que poderia ser
aplicado no Brasil?
Fernando Henrique Cardoso - A questão da descriminalização
está sendo proposta, inclusive por um deputado do PT, que propôs que houvesse a
descriminalização do usuário. Que o usuário de drogas não vá para a cadeia é
quase consensual no Brasil hoje em dia. Qual é o problema? A polícia, muitas
vezes, como não pode prender o usuário, diz que ele é traficante. Aí é
corrupção, é coisa desse tipo. Mas há a compreensão no Brasil de que o usuário
não pode ir para a cadeia, ainda mais agora depois do Uruguai, onde o
presidente foi mais longe e propôs a legalização.
Eu disse que cada país tem sua solução, é verdade. Veja o
que está acontecendo no Rio de Janeiro, o que faz a polícia pacificadora, e
compare com o México. No México há uma guerra. A polícia pacificadora no Rio
anuncia que vai entrar na favela. Para que? Para o sujeito ir embora. Ela não
está entrando para dar tiro. Ela está desarmando o que pode, tirando as armas.
Ela está liberando a população da favela do controle dos donos do tráfico, que
estão indo embora, mas ela não está matando como arma diária - no México mata,
o tempo todo. Ela não está sufocando o uso da droga lá. Ela está tirando de lá
o traficante.
Para sufocar o uso da droga, precisa de outras coisas.
Precisa de ação social continuada, precisa da presença do Estado, e campanhas
para mostrar que a droga é ruim, porque é, que faz mal a saúde, porque faz, e
regular e combater. Está dando resultado? Bom, até agora sim, no sentido de
liberação de áreas e do desarmamento. Tem problemas? Tem. Porque a continuidade
dessa ação pela presença do Estado para dar saúde, assistência médica e combate
à droga, ainda não se viu se vai dar resultado, mas está avançado.
Eu acho que é momento de discutir, de dizer que uma questão
dessa natureza não é só do governo, não é só da polícia. Cada pessoa deve se
responsabilizar. As famílias, os empresários, as escolas devem discutir, abrir
a questão, mostrar qual é o mal que faz. E, se você não puder eliminar, o que é
quase impossível, regula. Como se fez com o cigarro. O cigarro não foi
proibido, foi regulado e crescentemente regulado, porque faz a mal à saúde,
então você tem que avançar nisso. Toda a droga faz mal à saúde. Faz mal o
álcool, faz mal a cocaína, mas também faz mal a maconha, em graus diferentes.
Você tem que insistir, discutir...quebrar o tabu.
Terra - O senhor acha que o caminho para o Brasil é regular
a venda de maconha?
FHC - Eu acho que sim. Acho que você tem que descriminalizar
e regular.
Terra - E o senhor acha que a sociedade brasileira está
pronta para isso?
FHC - Não sei te dizer, por causa do tamanho do problema
aqui. É muito amplo. No Uruguai, o Mujica (José, presidente) tomou a decisão de
estatizar a produção e a oferta da droga. Você regula, mas quem faz a produção?
Quem distribui? Não é tão simples, então vamos devagar.
Terra - O senhor acha que o exemplo do Uruguai pode ser uma
porta de entrada para a discussão no Brasil?
FHC - Eu não sei. O Uruguai é um país pequeno. Aqui no Brasil
é muito mais complicado. Monopólio de Estado de produção de maconha, eu acho
que estamos muito longe disso. Se aceitar a descriminalização e a regulação,
você tem que dizer: 'bom, então quem é que cultiva?'. Na Europa o que eles
estão fazendo? Pode cultivar até 20 pés de maconha em casa. Nos EUA, o que
estão fazendo? Lá é pior, estão produzindo muita maconha e o que estão dizendo
é o seguinte: 'só para uso médico'. Isso é um disfarce. Na verdade, o médico dá
a receita para o sujeito usar. Enfim, são acomodações, não soluções. Eu não sei
se no Brasil estamos nem sequer a ponto de fazer acomodações, mas precisa-se
discutir o assunto.
2 comments:
No caso da maconha, libera para cultivar em casa para consumo próprio. Dependendo do tipo, 3 pezinhos é suficiente. Não precisa + do que isso. Mais já é segunda intenção.
Faz associação como na Espanha. Se funciona lá e pq não vai funcionar aqui? O que eles são mais do nós?
Já passou da hora de legalizar a maconha. As drogas químicas que a saúde tome conta.
eu ash que deveria legaliza tambem, varios paises quebraram esse tabu! porq nos não quiebramos de vez?! a maconha n faz tão mal assim .. mais tudo em excesso sim! no max 3 pezinhos ta bom! os comerciantes se legalizarem irão ganhar com isso, pois iria sair bastante, mais depois de um tempo as pessoas iriao ver que n é mais aquela coisa "proibida" e ira perder a graça! porq tudo que é proibido tem graça! e tamem podia ser vendido como remedio ou um "doce" em farmacias de manipulação! EU DIGO SIM A LEGALIZAÇÃO! CIGARRO E BEBIDA FAZEM MAIS MAL DO QUE MACONHA... a maconha é um remedio .
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