O historiador Henrique Carneiro afirmou que o projeto de lei
apresentado pelo governo uruguaio em controlar a produção de maconha é muito
pertinente. O professor da Universidade de São Paulo e pesquisador do Núcleo de
Estudos Interdisciplinares sobre Psicoativos vê com bons olhos a ideia de criar um monopólio estatal sobre a
produção, distribuição e comercialização da maconha.
“Isso elimina o risco de que o narcotráfico se legalize como
empresas e impede que grandes multinacionais do álcool e do tabaco se apossem
desse novo mercado”, afirma Carneiro.
Segundo o professor, esta nova perspectiva se encaixa muito
bem com o debate, que pede uma revisão na conjuntura adotada atualmente quando
o assunto é a chamada “guerra às drogas”.
Contextualizando, o historiador ainda explica que a
repressão militar contra o consumo e a produção de drogas devem ser repensadas,
uma vez que existem outras substâncias psicoativas que são legalizadas, como o
álcool e o tabaco.
O pesquisador não para por aí e afirma que o atual sistema
de combate às drogas está completamente falido, a começar pela questão social .
“Esse paradigma [social] tem significado uma forma de
criminalizar a pobreza, de atacar as populações mais pobres, que são
penalizadas por uma prática [uso de drogas ilegais] que, do ponto de vista da
ciência ou dos critérios éticos e morais, não tem nenhuma distinção do uso das
drogas lícitas. O fato de uma pessoa usar maconha ou cocaína é absolutamente
análogo a utilizar álcool ou tabaco. Não existe argumento baseado na ciência ou
no pensamento jurídico que justifique a separação de substâncias lícitas e
ilícitas, na medida em que algumas substâncias lícitas são até mais danosas à
saúde do que as ilícitas.”
Henrique Carneiro enumera o fator geopolítico, como sendo o
segundo a influenciar negativamente contra o atual sistema de repressão às
drogas.
“A ‘guerra contra as drogas’ se constitui num mecanismo
neocolonial de controle de matérias primas, que são utilizadas nos países
centrais com grande demanda e são um dos mercados de drogas mais importantes do
mundo. A presença imensa dos Estados Unidos na política de guerra às drogas se
transformou numa espécie de diplomacia imperial que controla militarmente
nações produtoras de matérias primas.”
Para o historiador, o projeto do governo Uruguaio, que
promete controlar a produção da maconha é bem pertinente, já que o estado
controlado a produção da canabis evitaria que grandes multinacionais se
apoderassem deste mercado.
“Muito pertinente e bem-sucedido nessa intenção de colocar o
Estado como único a poder produzir e comercializar no atacado a maconha, porque
isso elimina o risco de que os grupos criminosos ligados ao narcotráfico se
legalizem como empresas e, ao mesmo tempo, impede que grandes multinacionais,
principalmente aquelas já ligadas ao comércio do tabaco e do álcool, se apossem
desse novo mercado.”