Nossa coluna de culinária de hoje tratará de outra das
formas de consumo de Cannabis:
a GMM (Global Marijuana March). Este movimento que começou timidamente em 1999 hoje está
espalhado por quase todos os países democráticos.
Como não poderia ser de outra forma, é um movimento baseado
na criatividade. As consignas, os conceitos são os mesmos; só mudam as
apresentações. Na web, no facebook, no youtube encontramos todo tipo de links
com divertidas e interessantes imagens. Observando-as fica claro, como em todas
as culturas a descriminalização da Cannabis é uma questão de liberdades
individuais, de direitos humanos. Neste lema “no mais presos por plantar” está
embutida “frente ao poder, planto-me”.
Instalei-me a viver no Uruguai em novembro de 2010 buscando
um lugar onde me retirar da vida publica e de toda militância. Por um acontecimento
bizarro em janeiro de 2011, quando não levava nem dois meses morando nesta
terra fui presa por ter em casa 29 plântulas que levavam 30 dias de
crescimento. Para minha surpresa, o caso entrou na mídia e ficou sendo tema de
debate prioritário e excludente durante os 95 dias que permaneci na prisão. Fui
liberada dois dias antes da GMM de 2011 na que recebi inumeráveis mostras de
carinho de pessoas que obviamente não conhecia. Todas me pediam desculpas pela
atitude da justiça uruguaia e diziam sentir-se envergonhadas, como uruguaios
pelo sucedido.
Até então, a GMM, aqui, em Montevidéu, acontecia no Parque
Rodo e consistia num palanque onde alternavam discursos anti proibicionistas e
bandas de rock e de reggae.
O caso da minha prisão permaneceu na mídia durante o ano
todo como “caso emblemático” dos abusos bizarros que produz a guerra contra as
drogas.
Decidi deixar o retiro para mais adiante e juntei-me as
militâncias uruguaias. Achamos que este ano começaríamos a marchar e
convocaríamos outros excluídos como “ovelhas negras”, grupo de ativismo gay.
A concentração foi na Praça da Suprema Corte de Justiça, o
maximo tribunal uruguaio para marchar até o Parlamento.
Abriu a marcha uma comparsa do batuque uruguaio, composta
por afro descendentes. Eles andam com o mesmo passo que marcham os prisioneiros
e os escravos com grilhetas nos pés. Quando estive em prisão também me
colocaram as grilhetas e também andei nesse passo. No momento que iniciaram a
marcha senti na pele a importância de continuar libertando-nos de todas as
cadeias que ainda permanecem na sociedade. Confesso que me emocionei.
Começamos a caminhada; para minha surpresa, as pessoas
continuavam com a mesma atitude do ano anterior. Famílias, grupos de jovens,
até alguns septuagenários insistiam em pedir desculpas, em agradecer-me ter
assumido ser consumidora e ter acabado com o preconceito de que quem fuma
maconha leva rastas, não toma banho. Todos pediam para me dar um beijo, tirar
uma foto comigo, de preferência com um baseado na mao. Muitos afirmavam que a
minha prisão tinha sido o empurrão para saírem do armário.
Muitos disseram
coisas que me fizeram chorar, de alegria, de felicidade e pelo convencimento de
que valeu a pena, que não foram à toa os 95 dias em prisão.
Os vários quilômetros até o Parlamento foram uma festa
cívica, alegre e pacifica. Os amigos que me acompanharam achavam que eu recebi
algumas centenas de beijos e tinha tirado outras tantas fotografias; eu não
levei a conta. O fim da Marcha alcançou a apoteose num anfiteatro localizado
atrás do Parlamento onde se apresentaram bandas de musica, cantaram-se
consignas, tudo na Paz, no respeito, em harmonia iluminados pela maravilhosa
Lua Cheia do Perigeu, o ponto mais próximo a Terra.
Hoje não tenho duvidas que um dos efeitos colaterais do
consumo de maconha é lutar por nossos direitos.
0 comments:
Postar um comentário