Escrevo esse texto inspirado em foto inédita da tia Verinha
publicada no site: http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_secao=1&id_noticia=189236
Com apenas 3 anos de idade, participei do sequestro do
embaixador americano Charles Elbrick. Minha tia Verinha foi a única mulher que
integrou a ação armada do histórico sequestro, no dia 4 de setembro de 1969, na
rua Marques, em Botafogo, ao lado de onde hoje fica a Cobal Humaitá. Com sua
beleza e inteligência ímpares, aos 19 anos de idade, ela me levou à primeira
ação, fingindo que era minha babá, tendo ganhado assim a confiança do segurança
da embaixada. Mais tarde, me contou que não me levaria numa ação tão perigosa
por mais de uma vez. No dia seguinte, foi sozinha e o segurança a colocou
dentro da casa do embaixador, onde fez todo o levantamento e concluiu que o
sequestro era fácil de acontecer, pois as circunstâncias eram totalmente
favoráveis. Os seguranças do embaixador eram amadores, seu trajeto era
realizado sempre no mesmo horário, pelas mesmas ruas, em carros que não eram
blindados.
Muitos presos políticos estavam sendo torturados nos porões
da ditadura e Vladimir Palmeira, o maior líder estudantil na época, estava na
mesma terrível condição. A ação foi realizada para soltá-lo, mas 14 líderes
políticos também foram incluídos na lista e uma carta-manifesto foi lida para
todo o país em 1969 no Jornal Nacional da Rede Globo, aliado da Ditadura
Militar no período mais terrível dos anos de chumbo.
A ação foi brutalmente reprimida pelo regime militar, que
então baixou o Decreto-Lei 898/69, autorizando a prisão de qualquer pessoa por
um policial durante 30 dias, ficando incomunicável por 10 dias. Esta lei
comprova que a tortura foi uma política de Estado da Ditadura Militar.. Durante
esses 30 dias, milhares de militantes de esquerda foram torturados e assassinados
com a cobertura desta lei.
A ditadura anistiou inconstitucionalmente torturadores e
seus agentes continuaram trabalhando livremente nos órgãos de repressão do
Estado. Por isso, a tortura escravocrata permaneceu na ditadura militar e até
hoje faz parte da política institucional de um Estado que continua torturando
com apoio da cultura da mídia de massa e as estatísticas de uma sociedade de
mercado.
Embora jamais tenha sido usuária, minha saudosa tia Verinha
incentivava a nossa luta pela legalização da maconha, pois entendia que toda a
liberdade faz parte da resistência à opressão de um sistema hipócrita que visa
controlar e punir os corpos. Sua luta foi punida com a prisão e a tortura
brutal, de forma semelhante aos negros submetidos aos grilhões de nossas raízes
monarquistas escravocratas.
Assim, a democracia é uma grande conquista de todos que
morreram e foram torturados na ditadura militar. Queimar o voto é o maior
vacilo histórico, pois votar é o maior barato!
ANDRÉ BARROS é advogado da Marcha da Maconha e candidato a Vereador com o número 13420
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FONTE: http://maconhadalata.blogspot.com
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